[FINALIZADA] São minhas páginas...

D: - Papa, eu não fiz de propósito, eu... eu... não me castigue... Papa... per favore... -
o pequeno Damon já estava com os olhos cheios de lágrimas... era difícil encarar seu pai, e o peso de ser sempre o culpado e estar sempre errado o consumia por dentro... ele tão pequeno, lidando com todas essas emoções perturbadoras... seu pai era severo, muito rígido e exigente, mas com ele, era muito mais do que severidade, era ódio, ele podia ver nos olhos dele, sua cólera, era terrível.

G: - Insolente, não me dirija a palavra e não me chame de Pai. Você só me dá desgostos. - Giuseppe, furioso e incontrolável como estava, avançou contra o menino e o agrediu violentamente, esmurrando com as mãos fechadas e esbofeteando seu rosto... em seguida, o agarrou pela gola da camisa e ficou sacudindo-o com força, muita força. Damon sentiu seu bracinho torcer e por isso gritou de dor... as lágrimas nunca pararam.... seu pai permaneceu esmurrando e estapeando o menino em toda parte do corpo por pelo menos mais 20 minutos... o menino se defendia como podia, protegendo o rosto das pancadas a fim de evitar marcas. Levou até alguns golpes no estômago. E foi aí que seu pai parou e acho que era o bastante. Deixou o garoto chorando e gemendo de dor caído ao chão e se retirou. Damon ficou sozinho naquela noite, não subiu para o seu quarto, estava tão dolorido, que ele achou melhor nem subir as escadas, ficou no sofá da sala. Ninguém veio ajudá-lo, ninguém.

*fim do flashback*

D: - Isso que acabo de lhe contar, era muito comum, rotina, Ric. Até os meus 15 anos, era rotina, fazia parte do cotidiano para mim. Ele era assim, só comigo. Lembro-me dele sendo gentil com os filhos de vizinhos, sorrindo para eles, dava-lhes até presentes. Eu não tinha nenhuma inveja disso, sabe, não era esse o problema, o problema era o ódio gratuito. Ao 16 anos, cheguei a pensar que minha mãe havia sido infiel e que eu não era filho dele, porque não havia um retrato dela em toda a casa, e ele nunca falava dela. Jamais! Foi Robert que me contou que eles eram proibidos de falar sobre ela também. Além do mais, meu pai e eu temos feições completamente díspares, eu não me pareço em nada com ele, Ric, nada!! Então, quase me convenci de que este devia ser o motivo, mas sabe quando algo lá no fundo lhe diz que não é verdade, que há algo mais... foi isso que me impulsionou a continuar tentando descobrir o porque daquele ódio todo por mim. E eu só vim descobrir agora... agora... e o que eu sempre imaginei que seria o momento reconfortante, que me traria algum alento... não.... não... não foi assim... está sendo terrível...

R: - Damon... eu... sinto muito que ele fosse tão violento assim.. eu não fazia idéia de que isso acontecia com você... - Ric ficou mais do que chocado. Pressionou a cabeça do amigo que estava aterrada em seu ombro.

D: - Acontecia o tempo todo, espancamentos... teve a vez em que eu assumi a responsabilidade por uma besteira que Stefan havia feito com medo dele agredi-lo também, teve o dia em que ele me deixou do lado de fora da casa porque eu me atrasei na cidade e não cheguei em tempo para o jantar, ele me deixou lá fora, e era inverno... fui dormir nos estábulos porque era mais quente que a varanda, mas acabei com pneumonia... e teve a pior de todas as coisas que ele me fez... eu gostava tanto de montar... Robert que cuidava dos estábulos, me disse que minha mãe tinha esse hábito, ela amava montar e que Amico, era o cavalo dela... Amico era também o cavalo que eu chamava de meu, escondido de meu pai... e eu sempre montava... sempre sempre, e isso despertou a atenção e o interesse de Stefan.. mas ele era pequeno demais para montar ainda, na época ele tinha apenas 10 anos, eu tinha 13... ele não tinha altura para subir num cavalo adulto, mas é claro que não aceitou montar um potro ou um pônei... não, ele queria um adulto... numa manhã qualquer, não vou poder precisar, não sei de que jeito, Stefan se arranjou algo em que pudesse subir e conseguiu montar Suzete, uma égua relativamente mansa... ocorreu porém que ela havia dado a luz há poucos dias e estava arisca e ouriçada demais.. Robert cuidava dela e a isolou, mas Stefan foi logo escolhê-la para montar... ele saiu com ela pelo pasto... mas não deu nem 5 minutos e ele estava agarrado à crina dela, gritando socorro... ela disparou com ele.. e infelizmente, ele caiu. Meu pai sabia que eu montava e pelo menos isso não proibia de fazer, mas me acusou de ter incentivado Stefan e de colocar a vida dele em risco... e em vez de me bater, ele sacrificou Suzete e Amico... ele atirou na cabeça dos dois na minha frente... na minha frente... eu implorei para ele não fazer aquilo, juro que implorei, eu pedi de joelhos que ele não os machucasse, que não os matasse, que não havia sido culpa dos animais... mas é óbvio que ele jamais me ouviria... e os matou na minha frente de propósito... daquele dia em diante nunca mais montei.... e desisti Ric.. desisti de amá-lo e tentar conquistar seu amor... até aquele dia, eu fazia de tudo.. tudo que estivesse ao meu alcance para agradá-lo e não aborrecê-lo e quem sabe assim, ele me amaria, eu pensava dessa maneira, mas não... depois de ver o que ele fez com os animais.. a crueldade dele... eu passei a odiá-lo... Ric... sim... eu consegui.. e já não me importava o que ele sentia por mim.... decidi que não tentaria mais ser seu filho... muito mais coisa aconteceu... muito mais.. mas não dá... não conseguiria contar tudo para você agora.... me perdoe os pensamentos embaralhados.. eu estou tão confuso... meio tonto....

Ric ouviu tudo aquilo em choque, sim, mas saber que o pai de Damon havia matado os cavalos a sangue frio, o fez congelar. Aquele homem era mesmo muito cruel.

D: - Ok. Precisa soltar você agora...

R: - Não, está tudo bem Damon... pode ficar o tempo que precisar, não tem problema, não temos pressa... está tudo bem... Não tem problema...

D: - Tem sim.

R: - Não... não tem não...

D: - Tem sim...

R: - ... Nâo se preocupe... Damon, não há problema... você pode fi...

D: - Shh.. tem problema sim...

R: - Qual problema? - o tom de voz era calmo, sem exaltação. Ric estava muito compreensivo.

D: - O problema é que estou muito perto do seu pescoço, e suas veias estão gritando para mim... seu sangue... sinto-o fluir... e se continuar nessa posição, eu vou mordê-lo...

R: - Oh my God... - Ric deu um meio sorriso... e deixou Damon soltar-se do abraço. Continuaram sentados, porém.

D: - Não lhe contei muito coisa, detalhes por trás de tudo... mas isso não é importante Ric... só a essência... é que agora vi esse retrato e recebi este diário de meu pai das mãos de Stefan...

R: - Não entendo como as peças se encaixam... mas certamente o diário lhe revelou algo valioso...

D: - Este volume é de 1.856, nesta época eu tinha 12 anos e lembro-me com clareza de que foi o ano em que mais sofri o desprezo do meu pai... o ódio, deu lugar à indiferença... ele não ligava a mínima... está tudo aqui o porque... meu pai me odiava porque eu era parecido com minha mãe, e isto o fazia lembra-se dela o tempo todo, e ele não conseguia esquecê-la.. ele não aceitou a morte de minha mãe.... foi a pior coisa que podia lhe acontecer, ele descreve tudo aqui Ric... está tudo aqui... é este o encaixe.. as peças se unem e forma o quebra-cabeças aqui... neste livro velho.... ele narra todas as vezes em que me agrediu... e conta que ele sentiu muito... que não queria ter feito... veja você mesmo.. - Damon deu a Ric o diário e ele comprovou ser verdade tudo aquilo que Damon dizia. E viu também que Giuseppe amava Andrea, sua esposa, de forma quase doentia... era louco por ela... e perdê-la o abalou para sempre... Damon era fisicamente idêntico a Andrea e aos 12 anos, a semelhança era avassaladora para ele... e portanto, Damon era o responsável por não deixá-la morrer de uma vez, e Andrea assombrava GIuseppe através de Damon... sem que o menino desconfiasse de nada. Stefan, por sua vez, por ser o filho que Andrea lhe deixara antes de morrer, foi encarado com um grande presente de sua amada. POr isso, Giuseppe sempre o amara e respeitara. Stefan era o filho favorito, sem sombra de dúvida. Mas isto não machucava Damon. Stefan era parecido com seu pai em tudo,nos traços e na personalidade e aí está a chave para outra coisa. Damon interpretou isso como a razão de Stefan ter lhe dado isto de presente... Para Damon, Stefan queria mostrar que, como seu pai, ele sempre amou Damon, mas nunca foi muito bom em demonstrar... e a agressividade.. sim, o lado ripper de Stefan podia muito bem estar conectado com a agressividade de Giuseppe Salvatore... porque não?! Podia ser uma característica hereditária... a agressividade afastou Damon do pai.... e agora estava afastando os irmãos... sempre tão unidos... e o bilhetinho amarelado... tratava-se se uma cartinha escrita por Stefan a Damon, pedindo-lhe perdão por ter sido o responsável pela morte de Suzete e Amico... ele escreveu dizendo que sentia muito, e que precisava da ajuda de Damon para não ser um mal menino... outra peça.. no entendimento de Damon, outra peça para o quebra cabeças... aquele bilhete, resgatado por Stefan sabe-se lá de que jeito, era um pedido de ajuda para a situação de agora.. ele estava fora de controle, sob domínio de Klaus, sua agressividade estava a flor da pele, ele precisava de ajuda... era um grito de socorro... assim Damon compreendeu a mensagem... mas se Stefan lhe deu o diário do pai e a fota da mãe, sabendo que Damon sempre procurou por estas respostas, ele foi tão cruel quanto seu pai... porque teria lhe escondido isso por todos estes anos? Ah, era tanta coisa em mente... tanta coisa... aos poucos ele foi explicando todas essas conjecturas que estavam em sua cabeça para Ric.. que foi acenando em sinal de que estava compreendendo onde o amigo queria chegar...

R: - Está mais claro agora, Damon, para mim... quero dizer. No fim das contas, Stefan quis lhe mostrar que seu pai nunca o odiou de verdade. Era só um homemm doente e atormentado... o amor por sua mãe era cego demais... e sua semelhança com ela, o incomodava, porque o fazia reviver a morte dela todo o tempo... então, o subconsciente transferiu aquele sentimento ruim, para você.... eu sinto muito... de qualquer maneira, isso lhe trouxe consequências gravíssimas... não era correto, não era justo.

D: - Eu sei... será mesmo que ele não me odiava?

R: - Está escrito.. você confirmou ser a caligrafia dele... e pelo retrato que temos de sua mãe, Damon, não posso discordar... a semelhança é incrível... Damon... Stefan lhe deu as respostas que você tanto queria de aniversário... e também pediu ajuda... ele precisa de você...

D: - Diga isso a ele... eu estou tentando desesperadamente trazer ele de volta... Ric.... pelo amor de Deus... eu estou tentando... o que posso fazer.. ele não escuta... ele não quer conversar.. ele só provoca, ele se isola... se afasta... mas vou falar com ele sobre isso e vou fazê-lo sentir de novo...

R: - Isso mesmo... é isso o que tem que fazer...

D: - Vai me ajudar?!

R: - 100%.

D: - Ótimo. Obrigado por isso também... por estar aqui de novo, ouvindo minhas mágoas...

R: - Não são mágoas... são emoções reprimidas... trazidas a tona por revelações surpreendentes... Damon, tudo isso que está acontecendo conosco... desde a perseguiçao a Elena, a tal porcaria de maldição falsa, o sacrifício, a morte de pessoas que amamos, Klaus.. e agora Stefan fora dos trilhos.. tudo isso nos abalou e mexeu demais com a nosso estrutura, não só a sua.. a de todos nós... é perfeitamente normal que nos sintamos assim, perdido, e é por isso mesmo que precisamos uns dos outros mais do que nunca, você entendeu? Se todos decidirmos que não conseguimos mais e optarmos por sair dos trilhos também, estaremos todos perdidos... por isso é a hora de ficarmos juntos... e é hora de você saber que não está sozinho... tá legal?! Pode contar comigo... sempre... como amigo, como parceiro no crime.. tá... tudo o que você me contou sobre você, toda a sua intimidade a mostra.. fez-me sentir honrado... e só posso lhe dizer que estou orgulhoso de você...

D: - Está?

R: - Sim, estou, muito. - Em seu interior, Ric estava mesmo orgulhoso de Damon. Com toda esta história trágica de vida, ele poderia ter optado por desligar por completo como fez Stefan, mas não fez. Aguentou firme, fingindo não sentir, para não ser esmagado, mas sentiu cada coisa, cada acontecimento de sua vida, cada decepção e traição... e Ric sabia que Damon era correto e honesto... sempre foi, e finalmente ele entendeu que era mesmo um equívoco de Elena, exigir bom comportamento e perfeição a todo instante... Damon sempre se sentiu obrigado a ser perfeito para ver se agrava ao pai, ele não se permitia errar e errar era um martirio para ele... mas aí vem a história e a vida e ele acaba vendo que todo mundo erra de vez em quando e nada muda tanto na vida destas pessoas, não há grandes estragos assim.. tudo fica bem no final.. é só um engano.. e porque ele então, não podia também se dar ao luxo de errar???? Porque?! Agora Ric sabia... Ric entendia... e ele não ajudaria Elena a cobrar conduta exemplar do amigo vampiro.. não mesmo... - você é perfeito, Damon, exatamente como é... e seu pai sabia disso afinal de contas... Stefan também sabe e por isso confia em você para salvá-lo.... e bem, saber que sua mãe era parecida com você, não o deixou contente?

D: - Deixou... - Damon deu um leve sorriso. - Ela era linda, não era?

R: - Era sim...

D: - Tinha só 29 anos quando morreu... eu acho que senti a falta dela sem me dar conta, Ric.

R: - Claro que sentiu, era sua mãe.

D: - Ele me afastou da lembrança dela... guardava tudo com ele, quanto egoísmo.. não sei se consigo perdoar meu pai, Ric.. e é por isso que lhe disse que não estava me sentido tão bem quanto esperava, não estava fazendo sentido para mim, porque eu esperava encontrar um motivo que me fizesse odiá-lo com todas as forças, e aí encontro essas declarações de arrependimento? Não sei, Ric.. eu não sei se consigo perdoá-lo... ele não foi um bom pai para mim e isso não posso mudar, ninguém pode, nem vou ser hipócrita e só porque ele morreu, tentar respeitar a memória dele, não.. não vou..

R: - Não se precipite e não tome decisão nenhuma agora... espere a poeira baixar, é tudo tão recente, você acabou de descobrir essas coisas... não seja tão ávido para resolver algo que já não é um problema... talvez seja melhor se concentrar em Stefan.... até porque, precisamos dele para lutar contra Klaus.... e... ele é seu irmão.. simples assim, Damon.

D: - Tem razão, Ric, você sempre tem! Preciso de água... e ar fresco.... e sangue...

R: - Começo a ver uma reação, e isso é animador! - Abraçou o amigo novamente e o ajudou a levantar-se...

D: - Dá próxima vez que vier me apoiar, quando eu estivesse em baixa, por favor, me traga whisky... fez falta hoje... - riu.

R: - A garrafa que lhe presentei está logo ali, na outra sala, que tal?

D: - Não, deixa essa para uma ocasião mais importante, esta não é para mágoas... está reservada para algo bom... talvez a nossa vitória sobre Klaus..

R: - Talvez.

D: - Meus olhos ainda estão vermelhos? Dá pra perceber alguma coisa?

R: - Não muito, neste escuro, só se alguém chegar muito perto para ver.

D: - Ok, melhor voltar então, os outros devem estar desconfiados e aborrecidos. Ganho uma festa e me ausento dela quase toda? Não parece justo.

R: - Não parece, mas creia-me, eles estavam aproveitando mesmo sem você, com todo o respeito. Veja! - Ric apontou para o chão, quando os dois chegaram na porta do outro ambiente.

D: - ????? ¬¬ Uau!

Todos dormiam no chão... Caroline amontoada com Bonnie e Elena. Jeremy estava isolado e ainda tinha uma das mãos apoiada no violão, enquanto a outra segurava um copo de vinho. Festinhas intimistas também são perigosas!!