Diários do Vampiro
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Love Never Dies - Página 28 Empty Re: Love Never Dies

Mensagem por Keroll Salvatore Qua Ago 29, 2012 4:46 pm

Capítulo 60- Remembering
Relembrando



Love Never Dies - Página 28 Solidao


Na hora mais brilhante
Do meu dia mais escuro
Eu percebi
O que está errado comigo

Não consigo te esquecer
Não consigo chegar até você
Vem sendo um romance saudável-doentio desde o começo

Pegue essas memórias
Que estão me assombrando
De um homem de papel cortado em pedaços
Pelo seu próprio par de tesouras
Ele nunca a perdoará...
Ele nunca a perdoará...

Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre
Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre

Sentado ao fogo em uma noite solitária
De ressaca de outro momento bom
Com outra garota... Pequena garotinha suja
Você deveria escutar a essa história de uma vida

Você é minha heroína
Neste momento estou sozinho
Preenchendo meus sonhos sombrios
Todas essas drogas, todas essas mulheres.
Nunca estou perdoando
Esse meu coração partido

Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre
Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre

Um último beijo
Antes que eu me vá
Seque suas lágrimas
É hora de deixar você ir

Um último beijo
(Um último beijo) Antes que eu me vá
(Antes que eu me vá) Seque suas lágrimas
(Seque suas lágrimas) É hora de deixar você ir

Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre
Porque os dias vêm e vão
Mas meus sentimentos por você são para sempre

Um último beijo
(Um último beijo) Antes que eu me vá
(Antes que eu me vá) Seque suas lágrimas
(Seque suas lágrimas) É hora de deixar você ir

Um último beijo
Antes que eu me vá
Seque suas lágrimas
É hora de deixar você ir

Um último beijo...





Lembranças, lembranças, lembranças.

Era tudo o que se passava na cabeça de Aodh enquanto ele dirigia com uma lentidão exagerada de volta à mansão.

Mais especificamente, lembranças que tinham relação com ela. Era tão fácil lembrar-se de tudo o que os dois haviam passado juntos! Tão reconfortante! Naquela época ele achara mesmo que podia dar certo. Na verdade, ele não pensara com clareza antes de ficar tão próximo de Safira. Era impossível para ele ficar longe dela, mesmo que a conhecesse tão pouco no inicio.

Porém, mesmo ele sabendo que deveria esquecer, lembrava-se de cada mísero detalhe de todo o tempo que passara ao lado dela. Desde os melhores, mais calmos e tranquilos, até os mais nebulosos e escuros.

Era fácil estar ao lado dela, talvez até certo. Era como se os dois se conhecessem há séculos. Era simplesmente muito fácil conversar com ela, estar com ela sem temer nada. Pela primeira vez, Aodh não estava achando sua vida humana uma tortura inacabável. Ele estava quase contente por estar ali, com ela.

De fato, no dia seguinte, ambos encontraram-se no local onde ela indicou. E no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte. E assim aconteceu durante mais de dois meses. Claro que, ele tinha todo um respeito por ela. Jamais passava dos limites. O máximo de contato físico que tivera com ela havia sido pegar em sua mão macia.

E igualmente Safira parecia conter-se perto dele. Era de se esperar. Naquela época, as coisas eram bem diferentes. Só o fato de ficar sozinha com ele já podia lhe trazer sérios problemas, mesmo que eles não estivessem fazendo nada errado. Não importava para as pessoas. Ele era um garoto, ela uma garota. Era assim que tinha que ser, eles não podiam ficar juntos sozinhos.

O garoto perdeu-se mais uma vez em suas lembranças dos dias de primavera. Estava sempre estranhamente contente e ansioso, o que fazia com que seus pais estranhassem. O garoto geralmente era melancólico e quieto, extremamente solitário. Mas era claro que seus pais haviam percebido a mudança de humor do garoto.

Mais uma vez ele lembrava-se de ter acordado cedo. Não era muito comum, ele admitia. Como Aodh gostava de ser o filho rebelde, acordava geralmente tarde, não ajudava em casa, saía e só voltava de madrugada. Ele realmente não era o melhor exemplo de um bom filho.

Mas depois que começara a sair com Safira, ele acordava sempre cedo, tomava café da manhã, e saía. Tudo bem, ele também admitia que não fosse lá a melhor melhoria do mundo, mas pelo menos ele acordava cedo. Não podiam mais chamá-lo de preguiçoso.

-Bom dia. –disse enquanto amarrava a bota. –O que há para o café?

A mãe de Aodh naquela vida era estranhamente gentil e afável, o que o deixava sempre desconfiado com relação às verdadeiras intenções da mulher. Ele não confiava na bondade das pessoas, afinal, que razões ela teria para tratá-lo tão bem sendo que ele a tratava tão mal? Não fazia o menor sentido.

Naquela manhã, os cabelos cacheados dela estavam amarrados num coque que ele achava muito estranho. Gostava muito mais dos cabelos dourados e soltos de Safira...

-O que irá querer meu querido? –perguntou docemente enquanto colocava o leite em cima da mesa.

-O que há? –repetiu sem deixar-se enganar pela evidente tentativa dela de puxar conversa com ele.

Era sempre assim, sempre fora. Ela sempre tentava puxar assunto com o filho, mas raramente era capaz de conseguir. Talvez dez palavras, no máximo.

-Leite, pão, frutas... Está tudo em cima da mesa. –respondeu com um suspiro.

Ele assentiu, pegando uma fruta qualquer e dando uma mordida generosa. Estava realmente faminto.

Duas outras pessoas juntaram-se à mesa, ambas estranhando ao ver Aodh sentado comendo. Eles já haviam saído quando o rapaz acordava, portanto quase nunca o viam.

-Ora vejam só quem decidiu nos dar a honra de sua ilustre presença! –a voz irritante do rapaz alto fez Aodh revirar os olhos.

-Deixe seu irmão Philip. –a mãe o repreendeu. -Deveria ficar contente por vê-lo esta manhã meu filho, vocês quase nunca se veem.

-Por que ele é preguiçoso, isso sim! –o outro, mais baixo, resmungou.

-Ao menos não sou burro feito uma porta. –Aodh arqueou as duas sobrancelhas enquanto mordia a fruta com um sorrisinho cínico estampado em suas feições.

-Ora seu...

-Acalme-se William. –a mãe deu-lhe uma fatia de pão. –Sente-se e coma seu café da manhã em paz. Deixem Aaron comer tranquilo.

Sim, o nome dele para aquela família era Aaron. Nem tudo tinha que ser igual em todas suas vidas humanas. Seu nome era critério de seus pais, ele não tinha como gritar para eles e dizer: “Meu nome é Aodh!”. Então, para eles seu nome era Aaron, mas para Safira, ele era simplesmente Aodh.

A mãe do rapaz, Kaitlin, deu um beijo na testa de William, em seguida outro beijo na testa de Philip, mas quando dirigia-se à Aodh, o rapaz levantou-se rapidamente e fingiu estar muito ocupado limpando a capa negra que vestia.

Ele não gostava de demonstrações de carinho, não podia fingir que gostava. Aquela mulher já devia ter aprendido isso com o passar dos anos em que ele rejeitara qualquer relação de amor com ela. Mesmo quando era pequeno, Aodh mantinha-se afastado dela. Quando era bebê, mal chorava, mostrava desde o inicio que não precisava do carinho dela, nem o queria.

-Vai sair? –perguntou ainda em seu tom suave.

-Sim. Irei à vila. Devo voltar tarde, não me espere. –era a resposta de sempre.

-Espera, leva tua irmã contigo!

Ele fechou os olhos, praguejando baixinho enquanto fazia uma careta. Ela não podia mesmo estar planejando fazê-lo virar babá! Não mesmo!

-Como? –repetiu virando-se lentamente.

-Terei tanto trabalho a fazer hoje que mal terei tempo para cuidar de Heather. Podes levá-la contigo para a vila, depois a trazes de volta. São só algumas horas.

-Não quero ter de cuidar de Heather! –enfureceu-se. –Mande-a com Philip para qualquer canto!

-São apenas algumas horas, Aaron. –repreendeu-o. –Que fazes de tão importante que tua irmã não pode ir junto a ti?

Aodh virou a cara, visivelmente contrariado.

-Não é da tua conta, que eu saiba. –rebateu ácido. –Se queres que eu a leve comigo, não me responsabilizo por nada. Se ela desaparecer, tão melhor para mim que não terei de vigiar uma pentelha.

-Tratas tua irmã, sangue do teu sangue, como se fosse um fardo! –a mulher o encarava.

-Quando vais perceber que eu não sou teu filho? –rugiu, virando-se para ela. –Nunca te perguntares por que eu sou diferente? Pois bem, aqui vai: Eu. Sou. Um. Demônio. –disse entredentes enquanto andava em direção a ela.

Kaitlin afastava-se conforme o garoto se aproximava.

-Se queres tanto deixar tua preciosa filhinha que tanto desejares ter, comigo, pois muito bem. Teu desejo será uma ordem! Heather vem comigo, porém não cobre nada mais de mim. Bata-me se quiser, não dou a mínima para a dor, deixe-me sem jantar, não dou a mínima para a fome. Matem-me se assim o quiserem: eu não temo a morte.

Aodh lembrava-se que raras vezes em suas vidas humanas irava-se tanto daquela forma, mas já era demais. Sua “mãe” estava colocando uma responsabilidade que ele não desejava em suas costas.

-Heather! –gritou, vendo uma menina pequena de cinco anos amarrando uma touca em seus cachos castanhos. –Vamos.

A ideia dele era que Kaitlin o impedisse de sair com a menina, mas fora exatamente o contrário. Ela sequer se movia enquanto ele puxava Heather pela mão em direção à vila.

Ele tinha plena noção da garotinha que saltitava à sua frente, pulando toda contente enquanto caminhava com ele. Era muito estranho, mas Heather gostava dele. Gostava dele mais do que dos irmãos. Geralmente ele não falava com ela, mas Heather tinha a estranha mania de sentar-se no chão, perto dele, e começar a brincar, como se estivesse brincando com o garoto. Incluindo-o em suas brincadeiras, mesmo que ele não participasse.

Outro fato curioso era que Heather não falava. Ninguém entendia muito bem por que, só sabiam que ela tinha cinco anos e nunca falara nem uma única palavra.

-Devagar Heather! –Aodh gritou enquanto a menina disparava para uma barraca.

Não, ele não ligava tanto assim para Heather, mas tinha alguma coisa na garota que o deixava quase confortável perto dela. Talvez fosse o fato de ela não poder falar, ele não sabia direito.

-Bu!

Uma voz doce soou atrás do moreno, fazendo-o revirar os olhos enquanto virava-se para encarar a garota loura.

-Não conseguirá assustar-me dessa forma, Saf. Sou bem mais sorrateiro do que tu.

-Não desistirei dessa forma Aodh. –ela deu um meio sorriso. –Ainda hei de pregar-te um susto tão grande quanto o que me pregastes.

-Sonhas. –rebateu o garoto. –Sou bem capaz de pagar-te o que quiseres caso um dia consigas assustar-me de qualquer forma.

Ela ponderou por um breve momento, mudando a cesta que carregava para o outro braço.

-Tens certeza de que farias qualquer coisa?

-Dou-te minha palavra. –Aodh deu uma piscadela.

-Depois não vais voltar atrás...

-Não vais pegar-me, Saf.

-É o que veremos, Aodh.

Ela caminhou mais rápido, indo à frente do moreno. Aodh ficou parado por um tempo, olhando para ela enquanto Safira pegava água em um poço. Estava quente naquela manhã e Safira vestia um belo vestido de linho rosa-claro de mangas compridas e uma espécie de espartilho que delineava bem sua cintura fina, deixando o tecido cair delicadamente até o chão.

Uma fita também rosa prendia uma pequena quantidade de seus fios louros, deixando o rosto de Safira mais visível.

Aodh caminhou lentamente até ela, vendo-a segurar um balde cheio de água.

-Queres ajuda? –perguntou brevemente.

-Não. Se me vires conversando convosco, na certa levarei sermão de meu pai. Ainda assim, certas vezes devemos burlar regras, correto?

O moreno abriu um sorriso maroto para a loura, pegando o balde sem pedir permissão.

-Não será teu pai que me intimidará, vá por mim.

Heather veio correndo em direção ao irmão, parando para encarar Safira brevemente. A pequena menina agarrou-se a uma perna de Aodh, fazendo o garoto bufar irritado.

-Saia daí Heather!

-Aodh! –Safira o repreendeu. –Ela está apenas assustada, não é Heather?

Heather apenas balançou a cabeça positivamente.

-Que aconteceu contigo?

Heather agarrou-se ainda mais à perna do irmão, deixando apenas metade de seu rostinho pequeno visível para Safira. A menina estendeu levemente a mão, mostrando uma rosa vermelha e um corte. Os espinhos da rosa haviam perfurado a pele delicada da criança.

-Oh, pobrezinha! –Safira tomou a mão da garotinha delicadamente em suas mãos. –Deve estar doendo deveras! Por que não contaste?

-Heather não fala, Saf. –Aodh deu de ombros.

A garota loura o encarou.

-Ora, por que ela não fala?

-Não tenho a menor ideia. –disse simplesmente. –Só nunca falou nada.

Heather soltou a perna do irmão, voltando a correr despreocupadamente pela vila.

-Pobrezinha. –Safira acompanhava a menina com os olhos. –Deve ser lastimável não dizer nem uma única palavra. Imagine só...

-Não creio que faça diferença para ela. –Aodh caminhava lentamente com a loura. –Heather não parece importa-se tanto com isso. Ela simplesmente fala de um modo diferente.

-És estranho algumas vezes, Aodh. –a garota deu uma risada suave. –Teus olhos dizem que já viram muito da vida, mesmo tu sendo tão jovem. É muito curioso.

-Já vi algumas coisas. –o garoto colocou o balde no chão. –Coisas que sequer acreditarias.

As sobrancelhas da loura arquearam-se em dúvida. Ele sabia que ele a confundia, que ela estava sempre incansavelmente curiosa com relação a ela, mas no fundo de seu ser, Aodh sabia que não podia contá-la assim que não era exatamente humano. Que reação a garota teria caso ele contasse que era um tipo de demônio que tirava vidas inocentes?

Os pés de Aodh pararam imediatamente sua caminhada recém-começada. Que história era aquela de ‘pessoas inocentes’? Desde quando ele julgava alguém inocente?

-Estas bem? –a voz da menina soou preocupada.

A testa do moreno franziu-se enquanto as sobrancelhas do garoto uniam-se de confusão. Aquilo provavelmente estava errado. Havia alguma coisa muito errada com sua cabeça, só podia ser. Seus pensamentos não estavam coerentes, isso era um fato.

-Sim. Apenas pensamentos errantes.

-Heather não se parece muito contigo. Com quem acha-a mais parecida?

-Qualquer um que não seja eu.

-Estás a dizer que não és parecido com tua família?

-Não é minha família.

Ele sempre a confundia com isso. Sempre dava respostas que lhe diziam pistas distantes sobre o que ele era, mas ainda assim não explicava. Aodh queria que ela soubesse, queria muito. Queria dizer que estava preso ali eternamente. Mas algo o impedia. Há muito tempo vivia daquela forma. Algumas vezes até suicidava-se para livrar-se de uma vida irritante. A vida o irritava.

-Ora, ora, ora! Se não é o demônio em pessoa! Aaron, irmão!

A voz irritante de Philip soou bem à frente do garoto. O ‘irmão’ mais velho cortava lenha e distribuía entre os moradores da vila, enquanto William carregava frutas e legumes, trocando por outras coisas.

Aodh pensou em seguir adiante e continuar com seu caminho, mas sabia que seria impossível. Philip era insistente e irritante demais para deixá-lo sair ileso.

-Estamos mesmo na temporada dos milagres! –continuou. –Se até Aaron surge misteriosamente na vila acompanhado de uma bela dama. Diga-me Aaron, que mentira contastes para passear com a senhorita? Ou será que a ameaçasse?

-Poupe-me de mandá-lo ao submundo, querido ‘irmão’. –Aodh retrucou.

Era a primeira vez que soava tão mal-educado perto de Safira. Geralmente o rapaz era muito cortês e gentil com ela, sem deixar transparecer seu lado mais obscuro. Ao ver de Aodh, ela não merecia conhecer tamanha maldade que podia existir dentro dele. Não precisava saber que seu coração era negro, assim como sua alma.

-Aodh! –Safira o repreendeu docemente, como era de costume.

-Aodh? –Philip gargalhou. –Então é esse teu nome real, demônio? Aodh?

As mãos do moreno fecharam-se em punhos, enquanto tremores de pura ira faziam com que seu corpo inteiro se mexesse.

-Que queres dizer com isso? –Safira parecia confusa. –Não deves tratá-lo assim, Aodh é meu amigo e um real cavalheiro!

-Quantas mentiras contastes à ela, Aaron? –William balançava a cabeça negativamente. –O nome deste pentelho é Aaron, senhorita, e não Aodh. De certa deve tê-la pregado uma mentira.

-Por que tu não fechas essa maldita matraca e te calas de uma vez? –Aodh revirou os olhos negros. –Vai procurar qualquer animal para te fazer companhia, pois parece-me que só te entendes com os da tua espécie!

-Olhas como tu falas comigo, pentelho! –William deu dois passos largos à frente, ficando em frente ao moreno. –És mais novo e, portanto mais fraco do que eu!

-Isso é o que julgas! –rebateu.

Aodh era bem uns dois palmos mais baixo do que William, o irmão era um rapaz alto, musculoso, de cabelos cacheados e castanhos.

-Nunca, absolutamente nunca julgue alguém por sua aparência. –Aodh semicerrou os olhos em uma evidente ameaça. –Tu não passas de uma criança que acha que entende alguma coisa sobre o mundo. Olhas ao teu redor e o que vês? Uma vida inútil, segura! Não sabes nem da metade que se passa por trás dessa fachada! Não vês o que está a um palmo diante de teu nariz! Achas-te tão poderoso, tão forte! Queria vê-lo lidando com metade das coisas com as quais já lidei! Não durarias um segundo sequer!

-Tens quinze primaveras, o que dizes que entendes da vida?! És um pentelho malcriado e rebelde Aaron, e o pai ficará sabendo de tua afronta! Agora vai-te para casa e deixas a senhorita em paz!

A discussão atraía olhares das pessoas que passavam e que moravam por perto. A vila era pequena, apenas alguns moradores e suas famílias. Todos encaravam o rapaz moreno que brigava com o irmão mais velho. Todos cochichavam a falta de educação que o garoto transparecia, como devia ser uma vergonha para sua família.

-Conte para ele! Pouco me importa! –gritou de volta com os olhos coléricos.

-Safira!

O pai da moça ouvia a discussão entre os irmãos e via sua filha com o moreno, o que não era nada adequado para ele. Pretendia dali a alguns anos casar a filha com um ótimo partido, e confusões com o filho rebelde de uma família pobre não o ajudariam em nada.

-Que fazes? –perguntou furioso enquanto agarrava o braço da garota.

Os olhos azulados da menina arregalaram-se de choque enquanto seu corpo inteiro enrijecia. Não esperava por aquilo, estava focada demais na confusão para poder prestar atenção no pai. E agora? Ser amiga de Aodh já era ruim aos olhos do pai, estar metida numa briga com ele era outra história.

-Eu só estava...

-Desrespeitando-me! Era isto que estavas a fazer! –gritou enquanto a sacudia bruscamente. –Mas tu verás, como verás! Ficarás sem comida ou bebida durante três dias!

A briga entre Aodh e os irmãos continuava, mas assim que Aodh vira o pai da menina agarrando-a parou imediatamente. Na cabeça dele, ainda era o mesmo de antes. Forte, poderoso, invencível. Era terrível para ele perceber que era apenas um humano, que ainda por cima era pouco mais que uma criança, que sequer poderia protegê-la contra o tirano que ela chamava de pai.

-Largue-a Zachary! –disse de forma fria e entredentes.

-Quem tu pensas que é para dirigir-me a palavra? –perguntou altivo.

-Ninguém saberá quem tu és se não soltá-la imediatamente.

Ambos fitaram-se longamente enquanto Aodh mantinha sua postura firme. Podiam achá-lo apenas mais um garoto qualquer, mas ele sabia que não era. Nenhum ali tinha sequer a mais breve noção de tudo o que já vivera e presenciara. Ninguém sabia como era ser ele, não saber por que existe, o que faz ali.

-És muito audacioso para tua idade! Estás a gritar com todos ao teu redor, não tens medo de seres apanhado e de alguém dar-lhe uma boa sova?

O rapaz moreno sequer piscou pela evidente ameaça. Não importava, ele não tinha o menor medo. Podiam fazer o que quisessem com ele, não era pior do que a luta diária que tinha contra a vontade absurda de se matar e sair daquela vida idiota.

Sim, ele ainda desejava isso. Estar com Safira era ótimo, ele admitia. Era a única relação com um humano que ele realmente tinha, mas também havia uma parte dentro dele que estava cansada daquela vida estúpida que estava levando. As vozes atormentavam sua cabeça enquanto praticamente berravam que ele acabasse de uma vez com aquela farsa toda.

-Faça o que quiser. –rebateu pacientemente. –Mas se tocares nela, será a última coisa que farás em toda tua medíocre existência.

-Como ousa dizer-me o que posso ou não fazer?

Fora um dos momentos mais tensos de suas vidas que acontecera logo a seguir. Aodh lembrava-se perfeitamente, e agora, mais de cem anos depois, sabia que devia ter ficado calado e aceitar. Ou talvez, sua atitude devia ter sido mais cautelosa.

O pai de Safira pegara uma espada que carregava sempre pendurada num cinto, empunhando-a rapidamente contra Aodh. Certo, ele nunca precisara defender-se antes, por que iria interessar-se por armas? Especialmente uma arma tão humana quanto aquela.

Ainda assim, naquele instante, ele desejara ter aprendido.

Um movimento rápido, preciso, certeiro. Bastou isso para que o homem louro cortasse a pele pálida do garoto com a lâmina afiada da espada que empunhava. Primeiro um fiapo de sangue escorrera do corte que rasgara a camisa do rapaz, um fiapo tímido que logo abriu espaço para que o sangue escorresse cada vez mais depressa.

Muitas coisas aconteceram simultaneamente ao redor de Aodh. Assim que sentira a dor do corte, parecia que aquele velho instinto de puro ódio havia voltado com força total. Uma chama ardente tomou conta de seu peito enquanto seus olhos cintilavam de ira, a ira mais profunda e sombria que algum dia já sentira antes.

Mais um golpe estava prestes a acertá-lo com força, dessa vez não era um aviso. O punho de Aodh praticamente voou até o estômago do pai de Safira, pegando-o desprevenido pela rapidez com a qual o moreno havia recuperado-se do choque. A outra mão de Aodh agarrou o braço de Zachary que empunhava a espada, torcendo-o com força enquanto usava toda sua força para jogar o homem ao chão.

A respiração do rapaz era superficial enquanto distribuía socos e mais socos sobre a face do homem. Tudo ao seu redor era confuso. Ele ouvia gritos, xingamentos, pessoas tentando detê-lo, mas nada disso surtia efeito. Estava mais focado em sua raiva, em descarregá-la de uma vez por todas em cima daquele homem ganancioso e patético que ousava ter pensamentos tão ruins para a própria filha.

O ódio queimava dentro de seu coração enquanto continuava com sua ação quase doentia. A cada soco uma lembrança ruim de tudo o que passara, de todos os momentos que desejara ter alguém ao seu lado para dizer que nem tudo estava perdido, que ele não estava condenado por ser quem era, por ser o que era.

Ele nunca tivera um pai, uma mãe, uma família. Seja o que for que o tivesse criado havia tirado aquele direito dele, sendo assim, havia tirado dele o direito de amar e de ser amado. Como podiam culpá-lo por tudo o que fazia? A culpa não era inteiramente dele! Não era, não podia ser!

Toda a solidão pela qual passara, toda a dor, todo o martírio, toda a humilhação... Ele nunca mais sentiria aquilo de novo, ninguém nunca mais o trataria como se ele fosse inferior.

Os punhos de Aodh estavam manchados de sangue enquanto seus golpes ficavam cada vez mais fortes e velozes. Ele queria morte, ele queria sangue. Queria que cada mísero ser vivo dali visse que ele não estava para brincadeiras. Quem cruzasse seu caminho acabaria morto.

-Aodh! Aodh!

Uma voz o chamava, parecendo gritar muito acima das outras. Ainda assim, seu ódio era grande demais para que pudesse realmente ouvir.

-Aodh, por favor, pare!

Uma mão tentava tirá-lo de cima do homem louro que estava quase morto, mas não era suficiente, ele ainda queria mais. Ele queria matá-lo.

Com uma força quase bestial, o garoto deu um brusco empurrão na pessoa que tentava controlá-lo, dando uma pancada forte contra o peito de quem quer que fosse.

Outro braço -mais forte do que o anterior- puxou-o com força para trás, tirando-o de cima do homem semimorto. Um soco rápido e forte acertou-o bem no estômago, fazendo o rapaz perder o ar imediatamente, enquanto recebia mais golpes.

Ele não gritava, mesmo que a dor aumentasse gradativamente a cada pancada forte que levava. Sabia que seus irmãos estavam ajudando a espancá-lo publicamente, mas pouco se importava. Se tivesse seus poderes de novo, todos aqueles morreriam. Era nisso que se agarrava enquanto o seguravam e socavam sem parar.

Aodh desejava intensamente que continuassem batendo nele até que este morresse. Desejava que acabassem de uma vez com aquela droga de vida estúpida e idiota.

Um soco acertou-o bem no rosto, fazendo-o praguejar.

-Não estás mais a bater em senhoritas, Aaron?

Os olhos dele abriram-se rapidamente. Como assim bater em senhoritas? O olhar de Aodh varreu o espaço ao redor, ignorando os imbecis que o golpeavam. Safira estava ali, tentando deter os homens que pareciam divertir-se ao machucá-lo, em seu rosto havia uma marca avermelhada. Essa não, o que ele havia feito?

O terror aumentou conforme o rapaz lembrava-se da voz que o chamara antes de ele golpear alguém que tentara segurá-lo. Era a voz dela! Ele havia machucado a única pessoa que sempre quisera proteger. Como ele podia ter feito uma coisa daquelas?

Merecia cada soco, cada chute e cada paulada que lhe davam. Nunca devia ter encostado um único dedo em Safira! Como pôde fazer aquilo? Feri-la? De todas as pessoas no mundo ela era a única com a qual ele se importava, e mesmo assim havia feito mal à ela.

Não sabia quanto tempo deixara-se ficar à deriva em seus próprios pensamentos, amaldiçoando cada um dos rostos dos homens que o espancavam. Teria volta, como teria. Poderia durar décadas, séculos, ou até mesmo milênios. Ele teria sua vingança, cada um daqueles imbecis pagaria com sangue. Se já estivessem mortos quando ele encontrasse uma maneira de executar sua vingança, seus descendentes pagariam o preço.

Seu corpo cansado caiu contra o chão frio, as vozes animadas cessaram bruscamente. Estava dolorido demais para sequer abrir os olhos. Não sabia se era dia ou se era noite, se estava ainda na rua ou se o haviam jogado em algum buraco. Só sentia o frio e a dor.

O gosto de sangue em sua boca era acre, salgado. Aodh sentia o sangue quente em seu rosto, escorrendo por seus cabelos, descendo por sua nuca. Estava realmente em um estado lastimável, mas não era sua pior experiência. Algumas vezes, quando se matava jogando-se de grandes alturas, ainda ficava vivo por algumas horas sentindo dores inimagináveis. Ainda assim não conseguia procurar nenhuma lembrança de uma dor que fosse maior do que aquela.

As vozes voltaram, zunindo ao mesmo tempo. Estava cansado demais para prestar atenção, queria apenas morrer de uma vez por todas. Infelizmente, sua mente estava lúcida demais, recusando-se a entregar-se a escuridão total. Aodh não entendia direito por que. Seria muito mais fácil simplesmente morrer.

Aodh quase sorriu de satisfação, teria de fato sorrido se conseguisse mexer os músculos do rosto. Será que veria Jesse? Fazia muito tempo desde seu último encontro com o anjo...

Então ele finalmente percebeu que não estava exatamente consciente. Estava num estado de semiconsciência, algo que nunca havia vivido antes. Ótimo, mais uma experiência idiota e humana. Será que aquele tormento nunca teria fim?

Um cheiro forte e nauseante fez com que Aodh franzisse o nariz. Queimava agora, seu peito doía e queimava ao mesmo tempo, e o cheiro ruim continuava. Houve uma pressão em sua bochecha esquerda, seguida por uma coisa gelada e mole que aplicaram em sua pele. O que estava acontecendo? Por que estavam aplicando alguma coisa em seu rosto?

Aos poucos começava a tomar consciência das coisas ao seu redor. Por exemplo, não estava mais caído ao chão, agora estava deitado em algo macio. Parecia feno. Seu corpo ainda doía, mas a queimação que começava a subir por seu corpo suprimia a dor e a tornava aceitável.

-Fique imóvel. –uma voz desconhecida soou muito próxima, o que o teria feito sobressaltar-se se conseguisse se mexer.

Manteve-se quieto, imóvel. O homem que estava ao lado do moreno devia saber que ele estava consciente, mesmo que Aodh não tivesse dito nada. Ótimo, estava nas mãos de um desconhecido.

-Reclamas demais e fazes de menos, Aodh.

Aodh? Como assim Aodh? Como sabiam de seu nome verdadeiro?

-Como... –tentou debilmente.

-Quieto! –a voz voltou a repreendê-lo. –Como foste perder as estribeiras daquela forma?

-Eu...

-Como és teimoso! –uma mão cobriu-lhe a boca. –Fica quieto ou nunca te curarás.

Por incrível que parecesse, ele obedeceu sem pensar duas vezes. Quem quer que fosse aquele homem, provavelmente havia salvado sua vida.

-Se estas te perguntando como sei teu nome, a menina loura ficou gritando por tu enquanto eu o tirava de lá.

A menina loura. Na hora ele sabia de quem se tratava. Ainda que quisesse reagir, perguntar como ela estava, onde estava, ficou quieto. Não havia o que fazer, não naquele momento. Sabia que devia ter mantido o controle, mas como mantê-lo quando estava cercado por pessoas que o tiravam do sério?

Onde estava agora? Quem era aquele homem que estava cuidando dele? Por que estava cuidando dele?

O cansaço o venceu, fazendo-o entrar em um sono profundo.

Continua...
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Love Never Dies - Página 28 Empty Re: Love Never Dies

Mensagem por Keroll Salvatore Qua Ago 29, 2012 4:51 pm

Hei amrs, desculpem a demora, andei meio desanimada pra escrever, postei agora pq vi q seria muito egoísmo deixar a história incompleta desse jeito. Então, com relação aos posts, podem vir uma vez por semana como antigamente ou podem demorar mais, não vai ter um tempo exato, pq estou tentando priorizar um pouco alguns assuntos que andei deixando pra segundo plano.
Mas a história vai continuar, eu prometo, só peço paciência com as postagens, okay?
Beijos, e obrigada por continuarem acompanhando.
Keroll Salvatore
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